Saiba como se proteger contra a febre maculosa nas férias

Atenção deve ser redobrada em regiões de matas, rios e lagos, onde muitas famílias buscam descansar em julho

Milton Dantunes

Ao optar por passar as férias de julho no interior, em áreas montanhosas com matas, rios e lagos, é crucial tomar cuidados extras para evitar contrair a febre maculosa. Por exemplo, os pais devem impedir que as crianças deitem na grama.
De acordo com a médica Vera Rufeisen, infectologista do Hospital Vera Cruz, em Campinas (a 93 km de São Paulo), o carrapato tem preferência por lugares sombreados, folhas secas e vegetação. Embora os locais próximos a rios e lagos sejam mais tolerantes, não são os únicos. Vale ressaltar que o estado de São Paulo é endêmico para essa doença. Dados da Secretaria da Saúde de janeiro a março de 2023 evidenciam que Americana, Assis, Campinas, Piracicaba, Santa Bárbara D’Oeste, Sorocaba e Valinhos, além da região de Caraguatatuba, no litoral norte paulista, concentram a maioria dos casos.
A febre maculosa é transmitida por carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, que é encontrada principalmente no carrapato-estrela, e não é transmitida de pessoa para pessoa. “Apenas 1% dos carrapatos possui a bactéria Rickettsia rickettsii. O carrapato infectado passa a bactéria para seus filhotes. Não devemos nos afastar da natureza, mas é fundamental informar imediatamente o médico sobre o local visitado caso apresente sintomas como mal-estar, febre alta , dor de cabeça e no corpo”, adverte Rufeisen.
Para que facilite a transmissão, o carrapato precisa permanecer fixado na pele por pelo menos quatro horas. Se houver contato com vegetação, é recomendável realizar inspeções no corpo a cada duas horas em busca de picadas, conforme orientação Vera Rufeisen. Ela explica que, dependendo da sensibilidade da pessoa, é possível sentir uma ou duas horas após o carrapato se fixar na pele.
O carrapato na forma de larva, conhecido como micuim, é muito pequeno. Já o carrapato adulto é mais comum no final do ano. O micuím se assemelha a uma pequena mancha na pele, portanto é necessário inspecionar o corpo com cuidado. O uso de bucha vegetal durante o banho é excelente, pois remove os carrapatos pequenos que eventualmente não são identificados, orienta a médica.
Outro cuidado importante é a escolha das cores das roupas. É recomendável optar por cores claras, pois facilitam a visualização dos carrapatos. O uso de repelente na pele e nas roupas também é recomendado, especialmente para as crianças. Além disso, é importante usar roupas que cubram a maior parte do corpo, principalmente pernas e pés. Uma sugestão é usar meias sobre a boca da calça e colocar a calça por dentro das botas.
Rufeisen afirma que os repelentes à base de icaridina possuem eficácia razoável, mas devem ser considerados como uma medida complementar. Ela ressalta que as pessoas não devem acreditar que estão completamente protegidas apenas pelo uso de repelente.
De acordo com a infectologista e epidemiologista Luana Araújo, especialista em doenças infecciosas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e mestre em saúde pública pela universidade Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, o ideal é evitar locais com maior risco de contrair a doença, onde os vetores estão descontrolados. Caso isso não seja possível, é importante cuidados comportamentais comportamentais e garantir que o sistema de saúde esteja preparado. Araújo enfatiza que o poder público deve informar às pessoas sobre as áreas de risco.
“Essa informação é extremamente deficiente nas áreas endêmicas. Além dos locais de risco, é essencial educar as pessoas sobre a febre maculosa, o risco envolvido e como se proteger. Nas áreas endêmicas, é necessário intensificar a divulgação direta, clara, acessível e ostensiva essas informações, não apenas para a população em geral, mas também para os profissionais de saúde, que precisam ser melhor treinados”, avalia um epidemiologista.
Segundo Araújo, as áreas endêmicas surgem devido ao equilíbrio da fauna e flora. O aumento da população de animais hospedeiros, como o carrapato, ocorre nestas áreas, o que não seria possível se o ambiente fosse ecologicamente harmonioso. Com maior acesso a esses ambientes, colocamos nossa saúde em risco para várias doenças, sendo a febre maculosa apenas uma delas. A especialista destaca a importância de considerar a saúde humana como parte de um conceito chamado “saúde única”, que engloba a saúde do ser humano, dos animais e do meio ambiente simultaneamente.
Por fim, é essencial lembrar de nunca espremer o carrapato. Ele deve ser removido com cuidado usando uma pinça. Em seguida, deve ser colocado em um recipiente com álcool e comunicado à prefeitura da cidade. Arrancar o carrapato pode fazer com que a parte sugadora fique presa na pessoa, e é nessa parte que reside uma bactéria. Isso representa perigo de contaminação.