Desigualdade no Brasil: rendimento mensal dos 1% mais ricos do país é 40 vezes maior que dos 40% dos mais pobres

No Brasil, o rendimento médio mensal subiu 11,5% no ano de 2023, passando de R$1.658 para R$1.848

Por Liryel Araújo

No ano passado houve uma significativa redução na disparidade de renda entre as classes econômicas no Brasil, conforme revelado por uma edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os 10% da população brasileira com maiores rendimentos domiciliares per capita obtiveram uma renda 14,4 vezes maior do que os 40% com menores rendimentos, marcando assim a menor diferença já registrada no Brasil.

Os dados destacam que, em 2023, os 10% com maior rendimento domiciliar (por pessoa) alcançaram uma média mensal de R$7.580, enquanto os 40% com menor rendimento obtiveram R$527, ambos os valores representando os maiores já registrados para cada faixa de renda. Em comparação, o 1% da população com maior renda mensal (R$20.664) superou em 39,2 vezes a renda dos 40% com menor renda. Em 2019, essa diferença era ainda maior, atingindo até 48,9 vezes, o maior índice já documentado no Brasil.

A diferença de 14,4 vezes entre os 10% com maiores rendimentos e os 40% com menores é a mesma de 2022, marcando uma redução significativa em relação a 2019, quando estava em 16,9 vezes. O ponto mais alto da desigualdade foi alcançado em 2021, durante o auge da pandemia, com 17 vezes de diferença.

Desde 2012, quando a série histórica do IBGE teve início, os rendimentos dos estratos mais baixos da população cresceram em proporções superiores aos estratos mais altos. Por exemplo, os 5% com menores rendimentos tiveram um aumento de 46,5%, enquanto os situados entre 5% e 10% registraram um aumento de 29,5%. Em contrapartida, os 10% com maiores rendimentos cresceram apenas 8,9%. Em um período mais recente, entre 2019 e 2023, enquanto o rendimento médio domiciliar por pessoa aumentou 11,5%, os 5% mais pobres viram seus rendimentos crescerem para 38,5% e com expectativas de maiores crescimentos.

Para Gustavo Geaquinto, analista da pesquisa, três fatores explicam o crescimento mais intenso da renda dos grupos mais pobres. Primeiramente, é possível destacar o impacto dos programas sociais do governo, especialmente o Bolsa Família, que foi aumentado para R$600 por núcleo familiar, com acréscimo de R$ 150 por criança de até 6 anos e um adicional de R$ 50 por criança ou adolescente (de 7 a 18 anos) e também por gestante. Além disso, a expectativa de expansão do mercado de trabalho, com a entrada de mais de 4 milhões de pessoas no mercado nos últimos meses, contribuiu para esse fenômeno de aumento de rendimento. 

Por fim, o aumento do salário mínimo, que vem acima da inflação e tem um papel importante, afetando não apenas os rendimentos do trabalho, mas também os benefícios previdenciários e outros programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A análise da distribuição da massa de rendimentos revela que desde 2023, essa massa atingiu R$398,3 bilhões, um crescimento de 12,2% em relação a 2022. No entanto, a parcela dos 10% com menores rendimentos representava apenas 1,1% dessa massa, enquanto os 10% no topo da pirâmide recebiam 41%. Isso significa que os 80% com menores rendimentos detinham 43,3% da massa nacional.

O Índice de Gini

O índice que mede a concentração de renda, o índice de Gini, ficou em 0,518 em 2023, o mesmo de 2022 e o menor já registrado desde 2012, quando a série histórica teve início. Isso demonstra uma certa estabilidade na desigualdade, com o impacto positivo dos programas sociais compensando um pequeno aumento na desigualdade proveniente do rendimento do trabalho.

Entre 2022 e 2023, a desigualdade entre as classes econômicas brasileiras piorou um pouco, com a participação dos mais ricos aumentando de 40,7% para 41% em massa, enquanto a dos mais pobres cresceu de 1% para 1,1%, não tão significativa olhando pelo contexto. No entanto, comparado ao período pré-pandemia, houve uma redução na desigualdade.

 

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