PL anda negociando anistia de Bolsonaro por apoio na sucessão da Câmara e do Senado

Alguns pré-candidatos às disputas estão sendo procurados pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto

Por Liryel Araújo

Com a maior representação na Câmara e a segunda maior no Senado, o Partido Liberal (PL) planeja condicionar seu apoio nas próximas eleições para as presidências das casas legislativas, em fevereiro do próximo ano, à defesa de propostas relacionadas à anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, que estão enfrentando intensas investigações. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, revelou que os membros estão em contato com os principais pré-candidatos para avaliar o interesse de cada um em apoiar essa medida. Destaca-se entre os concorrentes, pela sua colaboração e disposição para discutir as propostas, o deputado Elmar Nascimento (União-BA), que tem se aproximado do atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

Valdemar Costa Neto, Presidente do PL, se organiza para pedir anistia de Bolsonaro. (Arquivo: Internet)

“Vamos colocar isso (a anistia) na mesa, sim. Tanto na eleição da Câmara quanto na do Senado, onde já incumbi o líder da oposição, o senador Rogério Marinho (PL-RN) de tratar firmemente desses diálogos” — diz Valdemar. 

Integrantes do PL ainda não têm claro qual seria a abrangência dessa anistia, mas um dos principais pontos diz respeito à inelegibilidade de Bolsonaro. O ex-presidente foi condenado no ano passado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e também econômico nas eleições de 2022, o que, na prática, o tirou da disputa pela presidência de 2026.

Hoje, os principais articuladores das iniciativas são: Valdemar, Rogério Marinho, além do líder do PL na Câmara dos Deputados, Altineu Cortes (RJ). Já há, entretanto, apoio à iniciativa em alas do Republicanos e do União Brasil, além da cúpula do PP, partido com indicação em ministério de Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante as negociações, de acordo com fontes parlamentares, Elmar também discutiu com Valdemar a possibilidade de planejar uma estratégia para evitar uma eventual prisão de Bolsonaro, embora tal cenário ainda não esteja em perspectiva pelo Judiciário, dado que o ex-presidente não foi formalmente acusado. Questionado, Elmar não prestou declarações ao GLOBO. Por outro lado, o advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, afirmou desconhecer qualquer iniciativa por parte de Valdemar. Outros pré-candidatos à presidência da Câmara, como Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), preferem evitar se comprometer com tais demandas. Enquanto isso, Elmar, que está plenamente engajado em sua campanha precoce, busca não apenas o respaldo do PL, mas também de um amplo espectro de partidos. Em março, ele se reuniu com o ex-presidente Michel Temer, buscando o apoio do MDB, em um encontro que, segundo seus aliados, também abordou a questão da anistia para Bolsonaro. 

“Ele veio apenas para se apresentar como pré-candidato à presidência da Câmara, aquela história de querer ouvir conselhos, mas foi apenas uma gentileza” declarou Temer, ao negar ter abordado o assunto. 

O próprio Bolsonaro chegou a falar, durante uma manifestação feita em São Paulo no mês de fevereiro, que é preciso “pacificação”, “passar uma borracha no passado”. Ainda que não tenha falado das investigações das quais ele é alvo, o ex-presidente pediu diretamente ao Congresso para anistiar os presos pelos ataques do 8 de Janeiro:

— Nós pedimos a todos 513 deputados, 81 senadores, um projeto de anistia para que seja feita justiça em nosso Brasil.

A deputada Silvia Waiapi disse que “os projetos da Câmara visam anistiar quem foi erroneamente condenado”. Investigada por suspeita de  estimular os atos contra Brasília no dia 8 de janeiro, a parlamentar disse que não seria “beneficiada por algo que a PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu o arquivamento”. O caso, que abrange ela e os deputados André Fernandes e Clarissa Tércio, ainda não teve uma resolução. A Polícia Federal considerou que houve crime, mas a PGR discordou e pediu arquivamento. O STF ainda não tomou uma decisão sobre o pedido da PGR. Procurados, os demais parlamentares alvos de processos não retornaram.

No Senado, a leitura é que Davi Alcolumbre (União-AP), ex-presidente da Casa e favorito para suceder Rodrigo Pacheco (PSD-MG), terá que atender a demandas dos parlamentares bolsonaristas para se consolidar como nome incontestável. A aliados, o senador do União Brasil evita se comprometer com o assunto, mas também não indicou se vai rejeitar os pedidos. Procurado por meio de sua assessoria, o parlamentar apenas afirmou que não tratou do tema.

 

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